Pressupostos e ramos da Medicina Chinesa

A Medicina Chinesa é uma das mais antigas medicinas. Conhece melhor a sua filosofia e as suas disciplinas, desde a acupuntura à massagem Tuiná e ao Tai Chi Chuan.

Por Ana João

A promoção da saúde é um elo comum entre a Medicina ocidental e a Chinesa, mas os métodos para alcançar essa meta são totalmente díspares, bem como o modo de diagnóstico.

Para a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), não se trata uma doença focando apenas o órgão em que está localizada, porque encara o corpo humano como um todo indissociável. Além disso, “assenta no pressuposto de que, para além do corpo visível, dos órgãos e dos vários sistemas, existem canais subtis por onde circula a energia (o Chi) e que as perturbações na forma como essa energia circula são a causa primeira dos principais desequilíbrios a que chamamos doença”, informa a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa (ESMTC).

Por outras palavras, a Medicina Chinesa defende que, enquanto um bom equilíbrio entre as energias dos diversos órgãos do corpo humano resulta em boa saúde, o desequilíbrio entre os mesmos se traduz, pelo contrário, em doença. Assim, o que a Medicina Chinesa faz é estimular a harmonização energética do corpo humano, defendendo que este é dotado da capacidade natural de se regenerar e evoluir para a cura.

Vazio versus Plenitude

De uma forma simplista, pode-se afirmar que a MTC classifica as doenças, de acordo com o grau de alteração energética, em dois grandes grupos: doenças de Vazio (em que há insuficiência de energia) e doenças de Plenitude (em que há excesso).

A Acupuntura, talvez a disciplina da MTC mais popularizada no Ocidente, pode ser mais eficaz nas patologias de Plenitude, e a Fitoterapia (tratamento com plantas) nas doenças de Vazio. Todavia, alguns sintomas de excesso têm frequentemente etiologia de Vazio, daí que a MTC utilize a sinergia destes dois ramos para tratar as doenças. Além da Fitoterapia e da Acupuntura, também fazem parte da Medicina Chinesa outros ramos, como a Massagem Tuiná ou o Chi Kung.

A primeira consulta é uma conversa entre médico e paciente, durante a qual o primeiro poderá pedir ao segundo para lhe examinar a língua e sentir a pulsação. Durante estas etapas faz-se o seu diagnóstico energético e de condição de saúde, que vai permitir o estabelecimento da terapêutica.

Note-se que, apesar de a Ciência não conseguir explicar totalmente a atuação da Medicina Chinesa, a Organização Mundial de Saúde reconhece-a como válida para o tratamento de múltiplas doenças.

Ramos da Medicina Chinesa

Acupuntura

É uma das disciplinas mais importantes da Medicina Chinesa e, certamente, a mais conhecida. Todos temos na mente imagens desta prática, que consiste na inserção de agulhas filiformes descartáveis em pontos muito específicos do corpo, com o fim de melhorar a saúde, diminuir a dor ou modificar o estado geral do paciente.

A acupuntura aplica-se em pontos bem determinados dos meridianos (vias de circulação da energia no corpo), que se sabe estarem mais diretamente relacionados com certos órgãos.

Durante o tratamento (uma sessão, exceto indicação terapêutica diferente, dura cerca de 20 minutos e deve ser repetida semanalmente), o paciente não sente dor. «Em alguns casos, depois da inserção das agulhas, sente um formigueiro ou calor, que são o efeito do tratamento. Estas sensações são naturais e, mesmo que possam causar algum desconforto em pessoas que sejam muito sensíveis, são sentidas apenas muito brevemente», informa o site das Clínicas Dr. Pedro Choy.

A Associação Portuguesa dos Profissionais de Acupunctura (APPA) nota que, “por ser muito complexa a conjugação dos pontos dos vários meridianos, a sua seleção terá de ser de grande rigor e de acordo com o diagnóstico energético, o qual deverá ser sempre feito por um profissional qualificado e com formação superior adequada”.

Graças às suas múltiplas indicações e à ausência de efeitos secundários, a acupuntura tem hoje uma projeção mundial, sendo mesmo recomendada pela Organização Mundial de Saúde para tratamento de múltiplas doenças.

A acupuntura atua de forma mais efetiva nas doenças provocadas por um excesso ou plenitude energética, isto é, em patologias agudas ou sub-agudas. Nas doenças crónicas ou hereditárias (síndromas de Vazio), pelo contrário, a acupuntura mostra-se insuficiente.

É sobretudo nos tratamentos dessas síndromes de deficiência energética que a Fitoterapia Chinesa dá um contributo importante. Administrada em conjunto com a Acupuntura, a Fitoterapia conjuga-se e reforça a eficácia daquela.

Fitoterapia Chinesa

Esta parte da Medicina Chinesa refere-se à conjugação de plantas medicinais chinesas em fórmulas que podem ser apresentadas sob a forma de comprimido, cápsula ou gotas, bem como chá ou creme, para combater uma série de doenças.

O exercício da Fitoterapia exige um conhecimento profundo da Medicina Chinesa, pois a sua ação é energética, aplicando-se por isso o mesmo raciocínio que na acupuntura.

Ao contrário da Farmacologia ocidental, que extrai uma pequena parte da planta ou seja, o seu princípio ativo, a Fitoterapia utiliza a planta toda ou parte dela. Uma fórmula fitoterápica chinesa poderá englobar três ou mais plantas e cada uma delas com objetivos bem definidos, que vão desde produzir o efeito terapêutico desejado a impedir efeitos colaterais indesejados.

De acordo com a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa:

a fitoterapia é apropriada para doenças crónicas, de longa duração, como a alergia, asma, cistite, depressão, problemas digestivos, nevralgia, problemas menstruais, dificuldade respiratória, problemas de pele, tensão e infecções virais.

Massagem Tuiná

A Massagem Tuiná é uma das mais antigas formas de Medicina Chinesa e é uma terapia segura e livre de efeitos colaterais. De acordo com a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa (ESMTC), não se confunde com a massagem comum:

Só é executada depois de um diagnóstico, visando restabelecer desequilíbrios energéticos (ou seja, visa curar ou contribuir para curar doenças) e não apenas um relaxamento muscular. Inclui técnicas de manipulação capazes de corrigir quadros patológicos caracterizados por incorrecta posição articular. A massagem tuiná é aplicada nos mesmos pontos e ao longo dos mesmos meridianos que a acupunctura, embora o terapeuta possa também julgar conveniente massajar toda uma zona do corpo.

Atualmente, estão documentados os efeitos curativos do tuiná no tratamento da espondilopatia cervical, prolapso de disco intervertebral lombar, doenças coronárias e colecistite, por exemplo.

Nas crianças, o tuiná pode tratar mesmo doenças como asma ou diarreia. Há uma longa tradição de massagem tuiná específica para crianças. Como a sua energia é particularmente forte e vibrante, elas costumam reagir ao tratamento mais rapidamente que os adultos. Os efeitos são especialmente benéficos com crianças até aos cinco anos.

Chikung

O Chikung é uma ginástica energética de raiz milenar. Nesta prática, “não se procura o fortalecimento muscular (embora se promova a flexibilidade)”, informa a Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa.

Trata-se de uma ginástica sobretudo interna, que visa efeitos diretos sobre os meridianos do corpo, promovendo a boa circulação da energia (Chi).Tal como acontece com outras técnicas da Medicina Chinesa, o objetivo do Chikung é desfazer ou prevenir os bloqueios de energia, para que esta flua plenamente e nas direções convenientes – evitando, assim, a doença ou contribuindo para curá-la.

O movimento constante e fluido do Chikung estimula os sistemas circulatório e respiratório, além de dar ao corpo grande flexibilidade. Por outro lado, o Chikung beneficia o metabolismo e previne ou atenua a maior parte das doenças típicas da meia-idade, como o endurecimento das artérias e articulações, sendo que é uma prática válida para todas as idades.

A Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa cita outros efeitos do Chikung, quando praticado regularmente:

• Melhora o auto-conhecimento do corpo;
• Corrige a postura;
• Produz um progressivo relaxamento das zonas em tensão;
• Beneficia o sistema nervoso central;
• Desenvolve a capacidade de concentração;
• Regulariza o apetite;
• Torna a pele mais macia;
• Aumenta a energia e reduz o número de horas de sono necessárias;
• Torna a mente mais perspicaz e acalma o espírito;
• Reduz o stress.

De referir que o Chi Kung também está associado a diversas artes marciais chinesas tais como o Tai Chi Chuan. No início, o Tai Chi Chuan também foi criado com propósitos de combate, como arte marcial para o desenvolvimento externo e interno. Mas, com o passar dos séculos, esta função foi sendo relegada em favor dos propósitos relativos ao desenvolvimento da saúde.

O Tai Chi Chuan é composto de movimentos relaxantes, desenvolvidos para estabilizar o equilíbrio das forças vitais do organismo. Ajuda todo o corpo a executar as suas funções de maneira mais eficiente. A prática destes movimentos suaves ocasiona um impacto no sistema nervoso central e constrói uma base para melhorar os outros sistemas orgânicos.

Alguns dos seus benefícios – que já começam a ser reconhecidos pela Medicina Ocidental – são o aumento da flexibilidade, da vitalidade e da concentração, o fortalecimento do sistema imunológico e do sistema nervoso central e a diminuição do stress.

Certas pesquisas demonstram que o Tai Chi Chuan pode melhorar significativamente doenças como hipertensão arterial, asma, insónia, aterosclerose e deformações ósseas, etc.

Procura um profissional qualificado

Algumas áreas da Medicina Tradicional Chinesa – como a acupuntura ou a fitoterapia – destinam-se a curar ou melhorar o prognóstico de doenças. Outros, como o Chi Kung, visam principalmente promover a saúde e o bem-estar. Se consideras que a Medicina Chinesa pode ser útil para ti, procura um profissional qualificado.

Ligações úteis:
Associação Portuguesa dos Profissionais de Acupunctura
Associação Portuguesa de Acupunctura e Disciplinas Associadas
Associação Profissional de Acupunctura e Medicina Tradicional Chinesa


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