Os espaços onde vivemos e que partilhamos influenciam a perceção que temos da vida e a nossa saúde física, mental e emocional: este é um dos princípios do Feng Shui. Boa razão para conhecermos melhor esta arte com origem na China, há pelo menos três mil anos.
Alguma vez visitaste a casa de alguém e conseguiste sentir uma energia alegre ou triste, leve ou pesada? É a energia Chi, força invisível que flui através do meio ambiente, das casas e dos seres vivos. Este conceito é essencial para entender o Feng Shui, que, significando literalmente “vento e água”, assenta as suas bases na cosmologia oriental e estuda a influência dos espaços no nosso bem-estar.
Pode esta arte milenar influenciar a vida em termos de saúde física, mental e emocional? “Sem dúvida”, afirma Paula Oliveira, professora da Escola Nacional de Feng Shui. “Através do conhecimento de como a energia Chi flui pelo espaço circundante, poderemos analisar excessos e estagnações desta mesma energia vital e a sua interação com o campo energético dos seres humanos. Depois de feitas as necessárias correções, é possível solucionar ou melhorar problemas emocionais, financeiros, profissionais e de saúde”, defende.
O simples facto de se alterar a cor de uma parede, reordenar a disposição da mobília ou colocar plantas naturais numa determinada posição poderá assim melhorar substancialmente a condição energética da nossa habitação e, consequentemente, de nós próprios. No entanto, o que é bom para uma pessoa ou uma casa pode não o ser para outra: “A arte do Feng Shui é individualizada. As generalizações são inúteis e, algumas vezes, até perigosas”, esclarece Paula Oliveira.
Feng Shui clássico versus contemporâneo
Existem abordagens distintas dentro do Feng Shui: a clássica, que referencia um conhecimento milenar e que é praticada no Oriente; e o Feng Shui contemporâneo, que bebeu das fontes originais, mas que evoluiu durante o século XX para melhor satisfazer a mente ocidental. “É que a cultura e maneira de pensar de um oriental e de um ocidental são diametralmente opostas”, refere a especialista. “O ocidental é formatado desde que começa a pensar para acreditar na visão separatista do universo. Já ao oriental é ensinado que existe uma ligação entre todos os fenómenos” – perspetiva esta que tem sido, de resto, corroborada pela Física Quântica.
Uma diferença entre o Feng Shui clássico e o contemporâneo é que no primeiro não existe o conceito de “intenção”, isto é, não depende do facto de o habitante acreditar mais ou menos no processo. “Tal como numa consulta de acupuntura, o terapeuta não pede ao paciente para acreditar no tratamento – vai, simplesmente, colocar a agulha no local correto e libertar o bloqueio energético –, também as harmonizações em Feng Shui clássico não dependem do fator humano”, expõe Paula Oliveira. “Muitas vezes apelidamos o Feng Shui clássico como uma verdadeira acupuntura da casa.”
A escolha de aplicação desta arte depende em primeiro lugar do objetivo da pessoa. “Por exemplo, para harmonização do espaço ou design de interiores, o Feng Shui contemporâneo é o indicado”, usando ferramentas como “a decoração, uso de simbologia pessoal, uso da cor e da forma segundo os princípios do sistema dos cinco elementos (madeira, metal, água, terra e fogo)”. Já para questões como “atuação em doenças concretas ou aumento de prosperidade, os cálculos clássicos terão porventura ferramentas, curas e aplicações mais objetivas”, acrescenta a docente da Escola Nacional de Feng Shui.
O Feng Shui clássico defende que existem direções e locais mais auspiciosos que outros. Assim, elaboram-se mapas energéticos de uma casa, com o apoio da tradicional bússola chinesa, denominada Luo Pan, e do cálculo das Estrelas Voadoras, uma das principais ferramentas de Feng Shui. Depois de analisadas as características da habitação efetuam-se as alterações e curas necessárias, de modo a potenciar a prosperidade, a riqueza ou o desempenho e reconhecimento social (benefícios Yang) e reforçar a saúde, a vida familiar e as relações humanas ou o desenvolvimento interior (benefícios Yin).
Taoísmo
O conceito de energia Chi que permeia o Universo, as forças complementares e opostas Yin e Yang, a união com a natureza e a interligação entre todas as coisas, com uma ordem definida e inerente, são elementos fundamentais do Taoísmo, tradição filosófica chinesa em cujas bases assentam o Feng Shui, a Acupuntura e outros ramos do conhecimento oriental.
Artigo originalmente publicado na RUNning Magazine.
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