Agricultores por um dia: esta foi uma das propostas da 13.ª edição do GIRO, a maior iniciativa de voluntariado corporativo em Portugal. Mais de 240 colaboradores de 19 empresas responderam ao desafio, no dia 12 de outubro, e contribuíram para o projeto Semear, que visa a inclusão de jovens e adultos com dificuldade intelectual e do desenvolvimento.
Por Ana João
Normalmente, trabalham cerca de 25 pessoas nos campos agrícolas do projeto Semear na Terra, da Associação BIPP – Inclusão para a Deficiência, ao abrigo de uma parceria com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), em Oeiras. Mas, naquele dia soalheiro de outubro, mais de 240 voluntários se avistavam naquelas terras. Mondaram (arrancaram ervas daninhas), plantaram três hortas, apanharam abóbora, tomate e batata-doce, e cobriram o solo com palha, para melhor o conservar.
“Nesta exploração agrícola, regemo-nos pelos princípios da agricultura biológica”, informou, aquando do briefing aos voluntários, no início da manhã, o engenheiro agrónomo Frederico Abreu. “A vossa colaboração hoje é muito importante, representa um ano de trabalho de uma pessoa daqui e vai beneficiar muito o nosso projeto”. Momentos antes, também a presidente da Associação BIPP, Joana Santiago, tinha agradecido aos voluntários e empresas presentes na ação: “Trata-se de um apoio determinante acelerando o processo de crescimento, colheita e posterior venda de produtos biológicos carregados de valor social na medida em que geram formação e emprego para cidadãos com dificuldade intelectual e do desenvolvimento e ainda a garantia de sustentabilidade do projeto.”
A associação BIPP, que iniciou a sua atividade em 2009, criou há quatro anos o projecto Semear, visando a integração socioprofissional de jovens e adultos com dificuldade intelectual e de desenvolvimento. O programa nasceu com uma academia de formação certificada no setor agroalimentar, comércio e indústria e, atualmente, também a valência de produção hortícola e frutícola em Oeiras – projeto Semear na Terra –, bem como de confeção e venda de produtos alimentares artesanais (ver caixa “A Mercearia Semear”).
“Entre 2014 e 2016, formámos 36 jovens, dos quais 23 já estão integrados no mercado de trabalho, e no ano passado começámos a formar mais 34”, congratula-se Joana Santiago. “Entretanto já empregámos nos projetos do BIPP seis jovens. Queremos ser um exemplo de boas práticas de inclusão social através da valorização do trabalho realizado por pessoas com deficiência intelectual e os benefícios para a sociedade.”
GRACE, Intervir, Recuperar e Organizar
“Cada vez mais, o mundo empresarial está sensibilizado para as questões da responsabilidade social corporativa”, considerou Luís Roberto, vice-presidente da direção do Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial (GRACE), aquando da receção aos voluntários em Oeiras. A adesão crescente ao GIRO (GRACE, Intervir, Recuperar e Organizar) demonstra-o: quase mil voluntários participaram nesta 13.ª edição, distribuídos por 11 iniciativas solidárias em todo o país.
Realçando que “o GIRO só é possível graças à mobilização das empresas e dos seus colaboradores”, Ana Fontoura, vogal da direção do GRACE, observou que a iniciativa é “enriquecedora” para quem participa. “A maioria de nós vive em ambientes urbanos, não está habituada a mexer na terra. E, por outro lado, temos a oportunidade de apoiar projetos sociais como o Semear, o que é muito positivo.”
A Mercearia Semear
Trata-se de um negócio social do programa Semear, que tem como objetivo empregar pessoas com deficiência através da produção e exploração agrícola, preparação, confeção e venda de produtos alimentares artesanais. Há doces, compotas, temperos, patés, biscoitos, enchidos, queijos, vinhos e licores, avulso ou em cabazes, disponíveis para compra em semear.pt e no Pingo Doce de Telheiras, em Lisboa.
“O nosso sonho é vir a ter uma loja e vender o ano inteiro, que as pessoas comecem a conhecer e a consumir a marca Semear, que tem este valor social associado”, afirma a presidente da Associação BIPP, acrescentando: “Os nossos produtos são certificados e os rótulos têm o nível de participação dos jovens na produção”.
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