Setembro é tempo de as famílias traçarem ou reverem estratégias para ajudar os filhos em idade escolar. Com a ajuda do professor universitário Jorge Rio Cardoso, autor de vários livros de educação e pedagogia, partilhamos pistas sobre como os pais podem ensinar a desenvolver bons métodos de estudo e a lidar com as mudanças de ciclo.
“Devido às múltiplas distrações com que os jovens se deparam, a concentração, o estudo e a reflexão parece ser cada vez mais difícil”, nota Jorge Rio Cardoso.

O professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa defende a necessidade de se criar algumas rotinas desde cedo, considerando que “é de capital importância que o aluno tenha um método de estudo de acordo com as suas características e ciclo de estudos”. E deixa alguns conselhos aos pais.
Ensina que a aprendizagem é fruto do empenho
Jorge Rio Cardoso aconselha a ensinar os filhos que “o sucesso escolar é fruto do empenho e que dependerá da sua atitude, persistência e trabalho”.
Afastem a ideia de que o sucesso é fruto do acaso ou da sorte, que o estudo é incompatível com o divertimento ou que é uma atividade aborrecida e sem utilidade prática. Enquadrem a tarefa de estudar como um projeto de vida e para a vida.
Educa com valores e inteligência emocional
Considerando que a educação deve idealmente ser “para a vida, para a cidadania, e não tanto para o resultado escolar imediato”, o professor aconselha os pais a que “cultivem a autoridade, mas com um espírito positivo”:
Evitem a pedagogia do medo. O jovem não deve associar o estudo e maus resultados escolares nem a castigos nem a sermões permanentes. Sigam a lógica de que há consequências, previamente definidas e comunicadas, mas mantenham a serenidade, sempre. E procurem que o vosso filho vença o medo de falhar. Pior do que falhar é não ter a coragem de tentar.
Nas discussões, recomenda que não se eleve a voz, mas se seja firme, sobretudo quando estiverem em causa valores, má educação, indisciplina ou irresponsabilidade. Deve-se procurar que as crianças e jovens sejam “emocionalmente aptos”, “que conheçam e controlem os seus próprios sentimentos e emoções e saibam reconhecer e lidar com os dos outros”.
Prioriza o sono e uma alimentação saudável
Para se ser um bom estudante e ter equilíbrio emocional, é fundamental “dormir pelo menos 8 a 10 horas” e ter uma boa alimentação.
Os alunos não devem saltar refeições, em especial o pequeno-almoço. Devem também evitar os açúcares puros e duros (como chocolates ou bolos), preferindo os cereais integrais (arroz, cevada, aveia), pois a sua energia permanece por mais tempo. A dieta deve ser rica em ácidos gordos, como ómega 3 e 6, encontrados nos peixes gordos (como o salmão, a truta e a sardinha), nas algas, entre outros.
Incentiva a prática de técnicas de relaxamento
A prática de técnicas de relaxamento, como meditação, exercícios de respiração ou Yoga, pode ajudar a uma melhor gestão das emoções, bem como a desenvolver empatia e melhorar relacionamentos com colegas, professores e pais, considera.
Atenta no processo de estudo
Jorge Rio Cardoso encoraja os pais a que “olhem menos para as notas e mais para o processo de estudo”. “Devem percecionar se os filhos têm realmente um método de estudo, pois há muitos alunos que não sabem estudar”:
- Como é que a criança estuda e se organiza?
- Está motivada?
- Como são os seus apontamentos?
- Sabe fazer resumos?
- Qual a sua postura em aula?
- Interroga-se sobre a matéria?
- Consegue apontar novas soluções para questões levantadas pelas aprendizagens?
O professor também releva o “insistir menos na memorização e mais na flexibilidade de raciocínio”. “Importa fazer uma boa gestão da informação, saber onde a encontrar e como a aplicar, tendo uma visão crítica”.
Complementarmente, os pais “podem-se propor-se a ouvir os filhos sobre determinada matéria, fazendo perguntas”.
Incentiva a uma boa organização e gestão do tempo
Os pais podem ajudar os filhos a ter uma melhor organização e a melhor programar as suas atividades. Podem aconselhar o uso de uma agenda e de um calendário de parede, para listar as suas tarefas. A ideia é o aluno poder antecipar problemas e gerir as suas responsabilidades.
Jorge Rui Cardoso deixa ainda outras dicas para os pais partilharem com os filhos:
- Programar as sessões de estudo. Deixar todo o estudo para as vésperas das avaliações pode não resultar. Talvez seja boa prática o aluno estudar um pouco todos os dias ‒ mesmo que abrande o ritmo nos inícios de período.
- Definir prioridades e objetivos. Há disciplinas que requerem maior atenção, podendo acumular-se tarefas em certas alturas. Pode ser necessário definir objetivos e prioridades e, com calma, resolver cada tarefa sequencialmente. O ideal é que “não se passe ao objetivo seguinte sem resolver o anterior”, recomenda. Para que o aluno não se sature, pode começar pelas disciplinas “mais chatas e atividades que requerem maior atenção”.
- Fazer pausas. “Por mais trabalho que tenha, o aluno nunca deve ultrapassar os seus limites. Oito horas de sono devem ser sagradas, não deve saltar refeições nem deixar de fazer exercício físico.”
Evita estes erros:
- Comparar os filhos com os outros: “Criem desde cedo a regra: comparações, não – nem entre o vosso filho e as outras crianças nem entre pais. A comparação deverá ser sempre com o próprio”, em termos temporais.
- Fazer as tarefas por eles: “Se os pais passam a vida a afastar todos os obstáculos com que os filhos se deparam, comprometem a sua autonomia. O aluno tem de acreditar que é capaz, que consegue ultrapassar problemas.”
- Manipular os gostos dos filhos: “Alguns pais têm tendência para influenciar os filhos nas suas escolhas sobre o futuro”, mas devem deixá-los decidir o mais livremente possível.
- Sobrecarregá-los com atividades: “Atualmente os pais podem tender a apetrechar os filhos com conhecimentos extra-escola, podendo restar às crianças pouco tempo para algo essencial: brincar. Elas têm que ter tempo para si próprias.”
- Elogiar só os resultados e não o processo: “Uma boa nota pode ser uma sorte ou um copianço; já o processo de estudo, como implica disciplina e hábitos de trabalho, prepara realmente o aluno para a vida. Os pais devem também procurar incentivar e elogiar o esforço e o empenho, independentemente dos resultados.”
- Desculpabilizar o filho em qualquer circunstância: “Alguns pais têm um baixo grau de exigência, evitando exercer autoridade, impor regras. Este modelo pode gerar filhos imaturos, com dificuldades de autocontrolo, menos responsáveis e inseguros.”
- Aceitar um baixo desempenho escolar: “Os pais não devem condescender com baixos desempenhos. O aluno deverá sempre dar o seu melhor.”
Mantém uma postura positiva
As avaliações e as transições de ciclo podem ser momentos críticos para os alunos. Jorge Rio Cardoso aconselha os pais a transmitirem sempre confiança e a mensagem de que os filhos estão preparados para enfrentar os desafios e as mudanças.
Mantenham sempre uma postura positiva: por mais complicado que seja, vai tudo correr bem.
Bom regresso às aulas!
Foto de Element5 Digital
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