A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 286 milhões de pessoas em todo o mundo têm algum tipo de défice visual. Com os avanços tecnológicos e da ciência médica, nos últimos anos tornou-se possível prevenir e tratar grande parte das doenças oftalmológicas.
Por Ana João
De acordo com a OMS, todas as pessoas com idade igual ou superior a 45 anos devem, mesmo que não apresentem sintomas, fazer um exame oftalmológico periódico, pelo menos de quatro em quatro anos. Já as visitas das crianças ao oftalmologista devem começar por volta dos três ou quatro anos. “Do ponto de vista médico”, sustenta Augusto Magalhães, oftalmologista pediátrico do Hospital de S. João, “é preferível rastrear mais cedo”.
E torna-se mesmo impreterível, no caso das crianças de alto risco. Por exemplo, os recém-nascidos que apresentem potencial para sofrer de retinopatia da prematuridade, e as crianças que tenham história familiar e/ou suspeita clínica de retinoblastoma, de cataratas infantis, de glaucoma congénito e de doenças genéticas e metabólicas.
De resto, todas as pessoas com elevado risco de desenvolvimento de patologia oftálmica devem realizar um exame oftalmológico. A prevenção primária e a deteção precoce das doenças oculares, bem como o acesso, se necessário, a terapêuticas cirúrgicas oftalmológicas, são determinantes para uma boa saúde visual.
Cuidados especiais
Estima-se que 20% das crianças em idade escolar tenham algum défice da função visual. Dores de cabeça, náuseas, olhos vermelhos, inchados ou lacrimejantes, estrabismo e fotofobia (dificuldade em suportar a luz) ou dificuldade na leitura “são sintomas que não podem ser ignorados e devem levar os pais a procurar um oftalmologista”, adverte o oftalmologista Augusto Magalhães.
Para promover a saúde visual, o especialista recomenda ainda que os pais e educadores “providenciem a iluminação, cadeira e secretária adequadas para tarefas de leitura, corrigindo posições erradas (como ler deitado de barriga para baixo) e certificando-se de que a distância de leitura é de 30 a 40 centímetros”. É fundamental, também, “realizar pausas e verificar a posição dos monitores do computador e da televisão, evitando reflexos”.
No computador, os olhos devem estar a um nível superior do centro do monitor e a distância da televisão deve “ser cinco vezes a largura do ecrã”.
Erros refrativos
Os erros refrativos (miopia, hipermetropia, astigmatismo, presbiopia – vista cansada) são alguns dos problemas visuais mais frequentes. Na sua grande maioria são facilmente corrigíveis com óculos, lentes de contacto ou através do recurso à cirurgia laser.
Miopia
Trata-se de um erro refrativo que ocorre quando a imagem é focada à frente da retina, em vez de ser focada na retina (como acontece numa situação normal, de emetropia).
Esta condição, que acontece normalmente devido ao facto de o olho ter um formato longo ou de a curvatura da córnea ser muito acentuada, traduz-se numa dificuldade de visão ao longe. Para lá de alguns metros de distância, os objetos tornam-se pouco nítidos ou desfocados.
A miopia, que tem tendência familiar e geralmente aumenta durante a fase de crescimento, pode ser facilmente corrigida com o uso de óculos ou lentes de contacto ou com cirurgia refrativa por laser ou lente intraocular.
De referir, contudo, que um olho míope é mais propenso a determinadas doenças, como o glaucoma ou o descolamento de retina, pelo que carece de uma atenção especial por parte do médico oftalmologista.
Hipermetropia
Ocorre porque o olho é geralmente mais curto do que o normal ou a curvatura da córnea é pouco acentuada, a hipermetropia é um defeito refrativo contrário à miopia: a imagem é focada por detrás da retina, havendo dificuldade de visão ao perto.
Atividades mais minuciosas, como a leitura, provocam habitualmente fadiga ocular e até dor de cabeça, pelo facto de ser exigido aos olhos uma focagem aumentada.
Nas crianças, a hipermetropia pode ser um fator de mau aproveitamento escolar, sendo que a sua incidência diminui com a idade. Também pode desencadear estrabismo convergente, devido ao facto de a capacidade de acomodação (capacidade de alterar a potência dióptrica) ser utilizada para ver ao longe. Por isso, o hipermétrope pode não apresentar queixas de baixa acuidade visual, mas sim apenas queixas resultantes do esforço permanente de acomodação (astenopia). A correção da hipermetropia faz-se com o uso de lentes convergentes, através de óculos ou lentes de contato, ou com cirurgia refrativa.
Astigmatismo
O astigmatismo é uma condição em que existe mais de um ponto focal, que varia conforme o meridiano de incidência dos raios luminosos, provocando visão distorcida, tanto ao longe quanto ao perto, e originando cefaleias. Este defeito refrativo – que, de acordo com a orientação do meridiano astigmático pode ser horizontal, vertical ou oblíquo – resulta, na maioria dos casos, de uma curvatura desigual da córnea.
Pode ocorrer isoladamente (astigmatismo simples) ou associado aos outros defeitos refrativos (astigmatismo miópico e/ou hipermétrope). Conforme o tipo, corrige-se com óculos, lentes de contacto ou cirurgia refrativa.
Presbiopia
Condição vulgarmente chamada de ‘vista cansada’, a presbiopia corresponde à dificuldade de visão ao perto, devido à perda progressiva de elasticidade e de capacidade de focagem do cristalino, fruto do envelhecimento.
Os indivíduos com mais de 45 anos são, assim, suscetíveis de desenvolver presbiopia, bem como as pessoas hipermétropes. Este problema pode ser corrigido com óculos e, em alguns casos, com cirurgia refrativa.
Cirurgia por laser
Joaquim Mira, oftalmologista dos Hospitais da Universidade de Coimbra e ex-coordenador do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa de Portugal, afirma:
A cirurgia refrativa por laser permite, com cada vez mais precisão, corrigir a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo. O objetivo final do tratamento por laser é eliminar a necessidade de usar óculos ou lentes de contato. Todavia, alguns doentes, sobretudo os com altas miopias ou hipermetropia, podem necessitar de algum grau de correção com óculos ou de repetir o tratamento.
O candidato à cirurgia por laser deve ter mais de 18 anos e córneas sem lesões, bem como apresentar refração estável, isto é, ausência de alterações na visão com o uso de óculos ou lentes, nos últimos 12 meses.
Não deixes de consultar o oftalmologista se perceberes alguma dificuldade na tua visão ou na da(s) tua(s) criança(s). Alguns defeitos refrativos podem ter como causa certas doenças que só um médico especialista poderá avaliar e tratar corretamente.
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