Jejum intermitente: como fazer

Por Joaquim Jorge
Especialista clínico de Medicina Ayurveda

O jejum é uma prática ancestral. Desde o nascimento da Humanidade que todos o fazemos, uns mais outros menos. Ele decorre desde o momento que nos deitamos até ao momento que tomamos a primeira refeição do dia.

Se lermos alguns textos do Ayurveda, verificamos que, na época védica, quando o ser humano não tinha o stresse nem a poluição que tem atualmente, o recomendado era a ingestão de duas refeições por dia. 

Atualmente, os países industrializados têm acesso a uma quantidade de alimentos como nunca se conheceu, bem como a hábitos errados, alimentos processados, com açúcar, conservantes e outros aditivos. Na visão da medicina Ayurveda, pode suceder que nem tudo o que comemos se digere corretamente, e o corpo vai gradualmente acumulando parte dessa comida por digerir, a que se dá o nome de ama, em sânscrito. Esta forma de toxidade vai-se acumulando no nosso corpo, manifestando-se de várias formas como: excesso de peso, cansaço, letargia, doenças do sistema imunitário, colesterol, diabetes e doenças autoimunes, etc.

As três vitaminas para a saúde

  • Deitar cedo e dormir entre as 22h e as 6h.
  • Fazer exercício regularmente.
  • Alimentação saudável.

O jejum intermitente, quando associado a estes três fatores, tem um impacto extremamente benéfico na saúde. Feito de forma correta vai fazer com que o nosso metabolismo queime o excesso de gordura/toxinas que se acumularam no corpo ao longo de uma vida de excessos alimentares ou alimentos incompatíveis.

Gradualmente, o corpo vai retornar a uma homeostase correta, diminuindo o nível de toxinas e açúcares no corpo e o estado inflamatório intercelular.

Qual o melhor jejum?

Será bom para a minha saúde? 

Mas o que é o jejum intermitente? Como funciona?

A visão do Ayurveda é que cada pessoa é um ser único, com características físicas e fisiológicas distintas, formas de se alimentar, estilo de vida e hábitos únicos. Por isso, a pessoa motivada para fazer jejum deve ser aconselhada de maneira a escolher qual o melhor jejum e como o fazer, para que a sua homeostase trabalhe de forma correta e não crie desequilíbrios físicos e psicológicos.

De forma geral, o ideal será começar por um jejum intermitente de 12 horas. Estar 12 horas por dia sem comer é o ideal para quem nunca fez jejum: janta-se cedo, até às 20h, e faz-se a primeira refeição às 8h. O almoço deve ser pelas 13h e entre as refeições deve-se beber líquidos como chás, sumos verdes, sumos de fruta biológicos ou feitos na hora. 

Este jejum intermitente pode ou deve ser feito mais de cinco dias, pois o nosso corpo leva entre três a cinco dias a adaptar-se. Pode ser feito em qualquer altura do ano, mas as melhores épocas são as estações de transição, como a Primavera e o Outono. 

Feito de forma correta e pontualmente, o jejum intermitente pode: 

  • auxiliar em processos inflamatórios, 
  • melhorar as funções neurológicas, Alzheimer, Parkinson, obesidade, 
  • regenerar a microbiota, 
  • aumentar a resistência ao stresse, 
  • reduzir os níveis de colesterol e triglicéridos, 
  • melhorar a função cardiovascular, 
  • diminuir os níveis de insulina e açúcar no sangue, 
  • entre outras vantagens.

Recomendações para começar a fazer o jejum

Ninguém muda de hábitos de um dia para o outro e, além disso, a nossa microbiota não gosta de mudanças, pelo que devemos começar por alterar a nossa rotina. Eis algumas indicações:

  • Levantar cedo, pelas 6/7h, beber cerca de 350 ml de água morna ou chá de acordo com a constituição física, para hidratar o corpo;
  • Fazer caminhada durante cerca de 30 minutos, ou praticar yoga (o exercício não deve ser vigoroso);
  • Ter a atenção de reduzir os hidratos de carbono, comer mais legumes e saladas;
  • Comer em ambiente sossegado e concentrado no ato (estamos a tratar do nosso templo);
  • Não comer sem sentir fome;
  • Não misturar fruta com a refeição;
  • Beber chá, água ou sumos à temperatura natural, durante o jejum;
  • Não é aconselhado beber café durante o processo, mas se é consumidor habitual, vá reduzindo lentamente, de forma a não ter dores de cabeça ou ficar com obstipação;
  • Se sentir muita fome, náuseas, dor de cabeça, deve ir comer, pois o corpo ainda se está a adaptar;
  • A refeição após o jejum deve ser feita com cuidado e lentamente, de forma a não criar um excesso de açúcar no corpo e a dar tempo ao estômago para reagir. 

Para melhores resultados:

  • Adicionar um pouco de sal marinho a mais na alimentação de forma a colmatar eventual perda de sais minerais;
  • Tomar vitaminas do complexo B, ómega 3, magnésio, para ajudar o corpo a expurgar as toxinas;
  • Se possível, recorrer sempre a produtos biológicos, assim como a suplementos naturais.

Outras formas de jejum

Jejum intermitente de 16h/8h

Neste tipo de jejum fica-se sem comer 16 horas e distribui-se as duas refeições por 8 horas do dia. Por exemplo, janta às 20h e almoça às 13h, bebendo chá ou sumos até cerca de uma hora antes do almoço e durante a tarde

Jejum intermitente 20h/4h

Este jejum de 20 horas num dia é um pouco mais exigente. Por exemplo, almoça-se às 13h e janta-se às 19h, bebendo líquidos durante os intervalos.

Jejum OMAD – One meal a Day

Este jejum é o mais difícil, pois só toma uma refeição por dia. só é recomendado para pessoas de constituição Kapha ou agravado em Kapha (por exemplo, com obesidade).  

Não se faz de um dia para o outro. A pessoa deve gradualmente começar pelos outros tipos de jejum e, quando se sentir confortável, pode avançar para o OMAD.

Jejum em dias alternados

Na perspetiva do Ayurveda, este jejum não é recomendado, pois provoca distúrbio no dosha Vata e desequilibra o sistema nervoso. Qualquer alteração radical na nossa vida, seja, na alimentação ou noutro aspeto, pode criar desequilíbrios. Qualquer mudança deve ser feita gradualmente e de forma suave.

Para fazer qualquer tipo de jejum, procura sempre um profissional de saúde qualificado.


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